quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Na Bahia, Chefe de flanelinhas é soldado da Polícia Militar


O que era apenas suspeita já está provado. Pelo menos um dos dois homens flagrados comandando um esquema de flanelinhas irregulares no entorno do estádio de Pituaçu faz parte dos quadros da Polícia Militar.

A reportagem, publicada no dia 18 deste mês, mostrou que “Bezerra” e “Marcelo” se apresentam aos motoristas  como policiais. Até quarta-feira, a PM insistia que não havia feito a identificação oficial. “Eles ainda não foram reconhecidos como policiais”, assegura, há dez dias, o assessor de comunicação da corporação, capitão Marcelo Pita.

Mas, quem o setor de inteligência da PM ainda procura, o Correio* já encontrou. Trata-se do soldado Marcelo Bezerra, lotado no Comando de Policiamento Baía de Todos os Santos (BTS). O outro Marcelo não foi identificado. O flagrante, feito com uma microcâmera, mostra que Bezerra e Marcelo loteiam um quilômetro de pista e cobram R$ 10 dos motoristas. Juntos, eles dão ordens a um batalhão formado por dezenas de flanelinhas.

Procurado pela reportagem, o comandante do BTS, coronel Sosthenes José Campos, confirmou que Marcelo Bezerra é um dos seus subordinados. O coronel disse, inclusive, que já abriu sindicância para apurar o caso. “Acabei de assinar a portaria para iniciar a investigação. Se for confirmada a participação de Bezerra, poderá ser aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD)”, afirmou Campos na terça-feira. “Não podemos dar qualquer parecer antes de concluir a sindicância”, completou o oficial. O prazo é de 30 dias.

Licença - Marcelo Bezerra está na corporação há dez anos. Natural do Sítio do Conde, ele atua na guarda da administração do BTS, na rua Carlos Gomes, Centro. Segundo o coronel Campos, o soldado estava de licença médica no período em que foi flagrado e continua afastado.

De licença, Bezerra não só atuava em Pituaçu em dias de jogo, como foi visto fazendo o mesmo na sexta-feira passada, na porta da casa de shows Bahia Café Hall, também na Paralela.  “Até onde sei, ele sofreu um acidente de moto”, afirmou o coronel. O soldado não foi localizado pelo Correio*. “Ele não pode dar declarações”, avisou Campos.

Para o coronel, Bezerra é um subordinado que não dá problemas. “Por aqui é tido como um bom policial”. O comandante do BTS garante que não há outros registros no batalhão ou na Corregedoria da PM contra o soldado. Entretanto, fontes ligadas ao Sindicato dos Guardadores de Veículos da Bahia (Sindiguarda) afirmam que Bezerra é conhecido por agir com truculência e, comandando flanelinhas, já chegou a brigar com colegas de corporação.

Nas gravações feitas pelo Correio*, guardadores clandestinos padronizados alertam os motoristas para a necessidade do pagamento antecipado da taxa de R$ 10. “A gente trabalha com dois policiais que guarnecem a área. De cada carro que a gente bota só ganha R$ 3 e R$ 7 é deles”, entregou um dos flanelinhas.

Passando-se por torcedor do Bahia, o repórter tenta um desconto na hora de estacionar. “Aí você tem que falar com o major ali, ó”. O ‘major’, como os flanelinhas chamam Bezerra, não só dá ordens no local como circula portando um cassetete e um radiotransmissor para se comunicar com os ‘seguranças’, os fiscais dos flanelinhas.

Mas é o outro Marcelo quem entrega tudo. “O canal aqui é meu e de Bezerra. Eu sou polícia, irmão”, diz. As imagens foram registradas antes dos jogos Bahia x Palmeiras e Bahia x Grêmio, dias 17 e 27 de outubro. A área da dupla é uma via alternativa da avenida Paralela, da altura do estádio até depois da loja Ferreira Costa.

Considerando que cada carro ocupe, em média, 5 metros, pode-se calcular cerca de 200 carros no trecho. Como param carros dos dois lados da via, a média é de 400 veículos por jogo. Há ainda pelo menos duas dezenas de carros na Avenida Paralela. O total estimado é de 420 veículos. Calculando-se R$ 10 por veículo, o esquema faturaria R$ 4,2 mil a cada jogo de bom público.

O grupo comandado pelo soldado Bezerra e por Marcelo tem até tíquetes. O bilhete é da Associação dos Seguranças para Estacionamento em Geral (Aseg), organização que o Sindiguarda desconhece. “Nunca ouvi falar. Com certeza é clandestina”, afirma o presidente do sindicato, Melquisedeque de Souza. Procurada, a assessoria de comunicação da Secretaria da Segurança Pública afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto.

Ministério Público do Estado vai acompanhar sindicância
Através da assessoria de comunicação, o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim) do Ministério Público Estadual (MP),  Nivaldo Aquino, informou que já tomou ciência dos fatos e está mantendo contatos e acompanhando o trabalho da polícia na apuração.

Ele informa que o MP deve adotar medidas não só relacionadas a praças esportivas, mas também a outros locais de grande afluência na cidade. O promotor optou por não dar entrevista, justificando que a apuração policial ainda está no início. Já Renato Araújo, superintendente da Transalvador, disse que os agentes do órgão só podem fiscalizar os estacionamentos regulares. “A polícia é quem pode apurar isso, não são os agentes. Eles têm que garantir é a fluidez e o ir e vir das pessoas ao estádio”, argumentou.

Fonte> Correio24h

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